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Rolam as Pedras (ou sobre como nomear uma empresa)

Idos de 82 e 83, minhas primeiras produções já rolando, me deparo com a responsabilidade de assinar e identificar estas iniciativas. Nem tinha pensado em como nominar o trabalho, no sentido empresarial. Quando você já começou a fazer algo acontecer – adoro esta definição quase superficial de produção – aí se dá conta de que com tantas empresas, profissionais e fornecedores envolvidos, tudo é resultado da sua iniciativa para gerar algo. Mas algumas percepções pessoais já surgem desde cedo, uma delas era a respeito do nome que eu daria para esta atividade.

Nos cartazes, flyers e peças de divulgação a produção era identificada pelo meu nome próprio e isto me desagradava. Eu tinha a empresa registrada como firma individual. Mesmo assim, evitava expor quando possível. Nunca achei que meu nome ou sobrenome deveria ser o da minha empresa. Nada contra as escolhas de ninguém, muito menos com o fato de que você precisa construir reputação a partir de muito trabalho, dedicação e de preferência com ótimos resultados. Mas isso não quer dizer que a empresa precisa ter o SEU nome. Quanto mais aparecia, mais eu ficava buscando uma denominação que traduzisse aquele trabalho.

Foi aí que no meio acadêmico, na comunicação da PUC, li “Lado Inverso” em algum lugar e bateu. Era o que eu procurava, uma conveniência para o protótipo inicial da produtora. Dois meses depois, já tinha logotipo, instintivamente com um design que permitia a leitura mesmo com as letras de cabeça pra baixo. Esta ideia de logo foi atualizada no início dos anos 2000, onde se vê apenas parte da palavra “inverso” invertida. A ideia de trabalhar com artistas locais focado na circulação e em busca de projeção e mercado em outras regiões, não tinha batismo melhor. De 84 em diante passei a usar o nome, sugestivamente definido como “fantasia”. Vai ver que no fundo era mesmo.

Primeiro logo da Lado Inverso.

Com o nome e o logo você percebe um certo sentido de orientação te representando. E ao longo dos anos você vai encorpando a personalidade da marca e acaba resignado de satisfação quando ela de fato criou uma identidade própria e te representa. A começar pelo fato de que a produção local e a aposta em carreira artística, era algo de sentido oposto (inverso) ao mercado mais tradicional de produção (sempre focado em trazer artistas do centro do país ou mesmo internacionais, para uma determinada região). Parte disto a Lado Inverso fez e ainda faz, mas eu sempre almejei o sentido contrário, de dentro para fora. Isto passa pela opção de agenciamento como parte do negócio, quase como uma arte: mensurar um valor para um artista, quantificar suas entregas (repertório, perfomance ao vivo, experiências gravadas, formatação e continuidade da obra, etc…). Tudo isto envolve critérios objetivos, capacidade de traduzir e interpretar o mercado, e ter coerência de avaliação e sustentação de seu posicionamento.

Anos depois, já como empresa LTDA veio a extensão Produções Artísticas, até que a designação comercial Empreendimentos Culturais ficou definitiva. Um batismo escolhido pela significação, por cumprir uma necessidade formal mas também por sinalizar o tamanho de uma ambição. De trabalhar não só produções, no sentido de montagens de espetáculos (shows e peças de teatro) mas também com administração de carreiras artísticas.

Logo atual, criado nos anos 2000.

Desafio mais do que esgotado pela minha passagem inicial por agências de publicidade (Símbolo e MPM) e de promoções (Ribalta). Fosse só pela opção do perfil artístico, minha formação em publicidade bem que poderia ter sido complementada por Psicologia, Artes Dramáticas, Administração, Gestão de Vendas, Direito, Design e Artes Visuais. Mas era mais urgente conhecer de perto os ciclos de vida de um produto, colocar a teoria nos trilhos da prática. Haveria com o tempo de aplicar parte deste conhecimento na simetria artística. Por volta de 2005, de uma ampliação de negócios para um selo e uma editora musical desponta a primeira marca da produtora, a Imã Records. E por força de diferentes perfis de produção, também me permiti a experiência de uma produtora mais enxuta e paralela, a Headline Marketing Artístico, que teve uma breve passagem de tempo e energia nesta trajetória toda.

Mas isso já são outras histórias. E por falar nelas, perdão, já deu o segundo sinal, preciso revisar o palco e ter certeza de que está tudo OK para o show que vai começar.

*Por Antônio Meira

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